O ser humano não é um objecto ao qual se possa aplicar o conceito de perda. Ninguém pertence a ninguém, é uma verdade irrefutável. Mas é muito fácil ficar sem uma mulher no espaço de poucos segundos. Não são segundos no sentido literal, mas um acumular de pequeníssimas situações da vida de todos os dias; o esquecimento de uma data relevante, as mentiras ditas piedosas, um comentário menos agradável, o telefonema que não chegou, a ausência de palavras aconchegantes, o fim dos gestos generosos. Tudo isto, à partida, não interessa nada, mas até o que não interessa nada se perde tempo a discutir, talvez porque nascemos com excesso de sensibilidade, porque damos imenso valor a pequenas atitudes, porque gostamos de nos sentir amadas e desejadas. As discussões intermináveis, fazem o balão começar a encher, os segundos prolongarem-se em minutos e horas, a vontade de lutar esvair-se e os sentimentos puros como o deviam ser de direito, esses, terminam sujos e gastos.
Há por aí uma velha máxima muito utilizada pelo senso comum que diz que as mulheres perdoam mas não esquecem. Há outra que diz que as mulheres não perdoam, nem esquecem. É nesta que confio. No entanto, somos o sexo fraco desde que o mundo se conhece como tal. Este estatuto deu-nos uma força interior, uma capacidade de aguentar superior ao que acreditamos ser possível. A mulher ouve, interioriza, espera, chora, grita, explica, acredita, sente, vê, tenta, fecha os olhos, faz, deixa andar, tem esperança, sonha, aguenta pacientemente. Até que um dia, não sem aviso, o balão enche demais e rebenta. Até que de repente, em poucos segundos, o coração se fecha. O amor não acaba ou desaparece, pura e simplesmente morre. E custa a morrer, custa muito mesmo. Mas quando morre, como em qualquer morte física, não há retorno possível.
8 comentários:
A mulher ouve, interioriza, espera, chora, grita, explica, acredita, sente, vê, tenta, fecha os olhos, faz, deixa andar, tem esperança, sonha, aguenta pacientemente.
Disseste uma verdade, das mais verdadeiras.
Até que um dia, não sem aviso, o balão enche demais e rebenta. Até que de repente, em poucos segundos, o coração se fecha. O amor não acaba ou desaparece, pura e simplesmente morre. E custa a morrer, custa muito mesmo. Mas quando morre não há retorno.
Andava há meses a tentar dizer isso. depois de ler isto, parece que quebrei o sufoco todo das palavras que não saíam! Custa a morrer, dói porque não desaparece, continua no coração, e dói porque não há retorno!
(já li este texto umas três vezes! está tão realista.)
beijinho V*
mas continuamos a ser mulheres, das fortes, que renascem, mais dia menos dia : )
Malvadas. |:
Sabes que chego aqui e leio aquilo que sempre (lhe) tentei mostrar, fazer ver. E sinto-me impotente, porque ouvi, interiorizei, esperei, chorei, gritei, expliquei, acreditei, senti, vi, tentei, fechei os olhos, fiz, deixei andar, tive esperança, sonhei, aguentei pacientemente, e ele não chegou a perceber porque me vim embora - o balão encheu.
Adorei. *
A tua escrita fascina-me ;)
True!
Olá.
Não te conheço mas senti necessidade de dizer que gostei bastante do teu blog, particularmente deste post e do que o antecede.
Parabéns!
=)
muitas vezes venho aqui e nunca tinha lido este texto, que me fez chorar...por que compreedo o que escreveu, revejo-me em frases ..obrigada por existir e por escrever coisas tão reais, tão nossas, tão minhas.
(já é um vicio o seu blog)
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